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O abominável novo mundo da desinformação

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Na semana passada, Mark Zuckerberg, o magnata que é dono da Meta, divulgou um vídeo, do qual ouvimos uma parte, no qual anunciava o fim dos mecanismos de controlo e verificação de factos nas suas redes sociais Facebook ou Instagram. Daqui para a frente, e para já apenas nos Estados Unidos, se alguém postar uma mentira deliberada, se prestar falsos testemunhos sobre uma pessoa, um partido ou uma organização, se retorcer ou manipular dados ou factos para acirrar o sectarismo ou o discurso de ódio, não corre riscos de ser denunciado e desmentido. Zuckerberg vai fazer o mesmo que Elon Musk faz na rede social X: deixar apenas que seja a comunidade a apontar as mentiras. Ou seja, livrar-se da responsabilidade.

Há dez anos, quando se levantaram os primeiros grandes problemas da desinformação, Zuckerberg abriu os braços ao fact checking, a verificação dos factos, e começou a aceitar as suas conclusões. Quando uma entidade credível denunciava a mentira, as equipas do Facebook tratavam de a eliminar nos seus posts ou comentários. Era um dever moral, como era uma obrigação legal indispensável para que as nossas sociedades funcionem à luz da ética ou da razão, Agora, Zuckerberg diz que esse mecanismo de verificação estimulou a censura. E, num claro gesto de submissão às teorias de Donald Trump, o dono da Meta quer ser um campeão da liberdade de expressão. Como se mentir intencionalmente para disseminar o ódio ou favorecer os extremismos políticos coubesse no conceito positivo da liberdade. Ou como se denunciar a mentira fosse um acto de censura.

As consequências da desinformação na polarização das sociedades e no avanço da extrema direita estão estudadas e são conhecidas. A mentira extrema o racismo, destrói a confiança que é uma das colas da convivência social, fomenta a intolerância e, como aconteceu na Birmânia, pode estimular o genocídio. Nada disto parece preocupar os donos das redes sociais. Na sua ideia de revolução contra o que chamam de antigo regime, valores essenciais como o da verdade, da honestidade, da racionalidade ou da tolerância não têm lugar. Estaremos a caminho do abominável novo mundo da desinformação?

Queremos saber o que pensa José Moreno desta transformação que preocupa políticos, sociólogos, jornalistas e, afinal, todos os cidadãos. José Moreno foi jornalista, é doutorado em Ciências da Comunicação e investigador no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.

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Há dez anos, quando se levantaram os primeiros grandes problemas da desinformação, Zuckerberg abriu os braços ao fact checking, a verificação dos factos, e começou a aceitar as suas conclusões. Quando uma entidade credível denunciava a mentira, as equipas do Facebook tratavam de a eliminar nos seus posts ou comentários. Era um dever moral, como era uma obrigação legal indispensável para que as nossas sociedades funcionem à luz da ética ou da razão, Agora, Zuckerberg diz que esse mecanismo de verificação estimulou a censura. E, num claro gesto de submissão às teorias de Donald Trump, o dono da Meta quer ser um campeão da liberdade de expressão. Como se mentir intencionalmente para disseminar o ódio ou favorecer os extremismos políticos coubesse no conceito positivo da liberdade. Ou como se denunciar a mentira fosse um acto de censura.

As consequências da desinformação na polarização das sociedades e no avanço da extrema direita estão estudadas e são conhecidas. A mentira extrema o racismo, destrói a confiança que é uma das colas da convivência social, fomenta a intolerância e, como aconteceu na Birmânia, pode estimular o genocídio. Nada disto parece preocupar os donos das redes sociais. Na sua ideia de revolução contra o que chamam de antigo regime, valores essenciais como o da verdade, da honestidade, da racionalidade ou da tolerância não têm lugar. Estaremos a caminho do abominável novo mundo da desinformação?

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